Childhood’s End – O Fim da Infância: Saiba como foi a adaptação do Syfy para uma das mais aclamadas obras de ficção científica de todos os tempos

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O que acontece quando o canal Syfy resolve adaptar um dos maiores clássicos da literatura sci-fi de todos os tempos? Uma excelente opção para os amantes da obra e para as novas gerações. Saiba como foi a tão anunciada adaptação de O Fim da Infância de Arthur C. Clarke.

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Ninguém percebeu a aproximação deles.

Sorrateiros, discretos, surpreendentes.

Mais ou menos como dizem ter acontecido com os índios nativos, quando as caravanas de Colombo se aproximavam lentamente no horizonte sem que eles sequer tivessem notado, uma vez que a chegada de alguém ou alguma coisa por mar era algo tão improvável que sequer gerava um alerta em seu subconsciente.

E estávamos realmente despreparados para o que estava por vir. Não éramos mais tão especiais.

Já não estávamos sozinhos e eles, nossos visitantes, eram superiores em tudo.

⚠️ Contém Spoilers

A chegada

Pois bem. Estamos em pleno Século XXI e temos milhares de olhos humanos e eletrônicos monitorando nossos céus. Teríamos percebido. Mas não percebemos. A vida seguia seu fluxo, quando naquela tarde, as gigantescas espaçonaves apareceram nos céus de pelo menos umas quarenta grandes cidades ao redor do mundo. Toda a comunicação foi prejudica. Os sinais de celular, televisão e rádio entraram em colapso. Aviões simplesmente foram paralisados em pleno ar para, então serem suavemente serem pousados em segurança. Tudo para que a grande entrada dos Senhores Supremos (Overlords) acontecesse da forma mais magnânima e onipresente possível.

Com esta impactante sequência, O Fim Da Infância de Arthur C. Clarke, escrito em 1953, chegou à TV por meio de uma das mais ambiciosas e fenomenais adaptações do canal Syfy.

Claro que esta aproximação remete a uma gama de filmes e séries sobre o tema;  alguns deles, claramente tem na obra de Clarke inspiração. Ele chegou a comentar que um jovem que assistisse a Independence Day sem conhecer seu livro, poderia achar que ele teria copiado o filme, tão semelhante a situação.

Somos de Paz

Não bastasse as misteriosas naves, os visitantes identificaram entes queridos e já falecidos de cada pessoa em cada lar para que se tornassem avatares e transmitissem uma mensagem que poderia soar tanto como um alento como com um engôdo: “Nós viemos em paz.“.

A partir daquele momento, não só a nossa Terra não era o único refúgio de vida, mas também tinha um “supervisor extraterrestre” – Karellen. Eles chegaram. Mas teriam realmente vindo em paz?

Bom, sabemos que eles vem do espaço e, mesmo que acreditemos que no primeiro momento, eles não queiram se mostrar hostis, a suntuosidade da chegada e a clara superioridade tecnológica causam um certo e compreensível medo naqueles que não foram tomados pela euforia.

Mas a promessa de paz já começara a ser cumprida. Seja por estar atônitos com o momento ou pela aparentemente inegável demonstração de poder, a população de várias parte do mundo, especialmente aquelas em conflitos eternos como o Oriente Médio, o Sudão e os Bálcãs Afegãos simplesmente decidiram parar. Era, enfim, o primeiro dia de paz em todos os cantos da Terra.

O escolhido

Mas nem todo mundo acreditou que tamanha demonstração de grandeza serviria apenas para fins pacíficos. Qual é? Assistimos diversos filmes e, na maioria, eles querem mesmo é acabar com nosso mundo, levar os recursos naturais e escravizar a humanidade, senão tratar-nos como gado, não é?

Pois é, para transmitir uma mensagem assertiva, os Senhores Supremos resolveram escolher alguém.

Poderia ser alguém influente como o presidente ou mesmo o Papa, ou alguém das Nações Unidas, como no livro original, mas a série resolveu ser ainda mais simplista e instigante. Eles escolheram um fazendeiro do Mississípi para ser seu porta-voz. Mas não foi apenas um convite. Desmontaram a casa do cara parafuso por parafuso até encontrá-lo e convencê-lo a subir em uma espécie de casulo, uma nave menor e conduzi-lo para o primeiro contato de um ser humano com os visitantes. Mas não foi um contato visual. Os alienígenas optaram por se manterem escondidos, enquanto, convenciam o fazendeiro a trabalhar para eles.

A resistência

Mesmo com tantas demonstrações de que os visitantes misteriosos só estavam aqui para ajudar, nem todo mundo engoliu isso. Havia quem preferisse manter os pés atrás,  conclamando a população a desconfiar das boas intenções dos recém-chegados.

Havia ainda os religiosos que acreditavam que eles estavam ultrajando a Deus e às diversas religiões da Terra, uma vez que tão poderosos, conseguiam atender de imediato a todos os anseios daqueles que antes só tinham a Deus para pedir: saúde, paz, fim das injustiças, fim da fome etc.

Amigo oculto

Uma das passagens mais interessantes do livro é a respeito da aparência que teriam os visitantes. Eles se recusavam a mostrar-se e, ainda no primeiro episódio, Karellen (Charles Dance), o supervisor da Terra, explica o porquê: “Vocês não aceitariam nossa aparência“. E completa: “Não somos nada parecidos com humanos.“.

Porém não se revelar alimenta ainda mais a desconfiança das pessoas. Seriam eles orgânicos? Máquinas? Deuses ou outro tipo de seres que sequer imaginamos? Eles decidiram que só iriam se revelar quando fosse o momento certo.

E o momento chega para fechar o primeiro episódio e é um dos pontos altos da produção.

O Brasil

O nosso país é citado pelo menos em dois episódios. O primeiro, logo no início, quando uma das gigantescas naves se posiciona sobre o Cristo Redentor. Logo depois, em uma favela no Rio de Janeiro, uma freira já morta, reaparece para transmitir a mensagem de Karellen. Em inglês, claro, mas todos entendem e se emocionam (sic).

No segundo momento, uma garota chamada Peretta (um nome que certamente não parece tipicamente brasileiro), conta em um programa de TV que acredita que os Senhores Supremos acabaram com a fé no mundo. Sua mãe, antes religiosa, ao ver que não estávamos sós no universo, acabou com a própria vida por não conseguir viver em um mundo sem Deus.

Os questionamentos, analogias e provocações

A série, mesmo com toda a superficialidade que, muitas vezes, a televisão precisa impor a um produto para que ele possa ser facilmente digerido pelas grandes massas, não perde a qualidade dos questionamentos e provocações que Artur C. Clarke nos desperta com sua obra.

Fim da Infância mostra a chegada de seres vindos do espaço, obviamente com intelecto e tecnologias infinitamente superiores às nossas.

Nem todos os seres humanos acreditaram ou aceitaram sua oferta de paz. Por que resistimos tanto a presentes grandiosos? Parece que somos desconfiados por natureza a não aceitar nada de graça. Afinal, no mundo que conhecemos, tudo, absolutamente, tudo tem seu preço. E, obviamente, ninguém nos dá de graça tudo aquilo que sempre sonhamos. É simplesmente impossível acreditar na boa vontade e o desejo de paz, cura e saciedade para todos, sem algum interesse oculto e, possivelmente, terrível por trás.

Outra grande provocação da série e da obra original está exatamente no mundo de aparências no qual estamos mergulhados. Julgamos, aceitamos e consumimos as coisas e as pessoas, em grande parte baseados no que vemos. Afinal, a visão é um dos sentidos humanos mais estimulantes. Julgamos que os visitantes chegaram do espaço para nos conquistar porque suas naves grandiosas e seu poder inimaginável se estivessem do lado de cá, certamente seriam usados para impingir força, poder e subjugar os mais fracos.

Os alienígenas, quando chegam à Terra, se escondem porque acreditam que não estamos preparados para entender e aceitar sua real aparência. Confessam até que tem experiências negativas de outros mundos e dão ao ser humano a chance de reconhecer sua boa vontade através de seus gestos de bondade e caridade distribuídos para a humanidade, ao longo de 15 anos de paz profunda e inquestionável.

Mesmo depois de tudo isso, somos ainda capazes de rejeitá-los com base na sua aparência, de fato, similar a coisas que aprendemos a associar com o mal e o perigo.

De todo modo, um dos pontos altos é que a minissérie consegue manter em alta o suspense sobre as reais intenções dos alienígenas até o final graças à genialidade e originalidade da obra de Clarke.

O veredito

O Syfy não faz feio na adaptação. Mantém muito do material original, ainda que precise atualizar algumas partes e abreviar outras, devido à duração do projeto: 3 episódios com 1h20 cada. A caracterização dos visitantes, a forma como a história se desdobra é emocionante e mexe muito com nossa ansiedade. Assim, O Fim da Infância permanece, mesmo na versão da TV, inteligente, polêmico e impactante.

A minissérie é produzida por Akiva Goldsman (Lone Survivor, Uma Mente Brilhante, Eu Sou a Lenda) e Michael De Luca (Captain Phillips, Moneyball, A Rede Social) e conta com um elenco liderado por Charles Dance (Game of Thrones), Mike Vogel (Under the Dome), Daisy Betts (The Last Resort), Yael Stone (Orange is the New Black), Julian McMahon (Nip/Tuck), Osy Ikhile (The Fear) e Colm Meaney (Star Trek: The Next Generation).

Longe das produções sobre invasão alienígena convencionais, a adaptação faz você refletir sobre coisas importantes. Mas, leia o livro também, ok?

Confira o trailer:

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