Hemlock Grove: todo monstro tem seus demônios

Uma mistura de dramalhão familiar e étnico e monstros de tudo quanto é tipo faz desta série original do Netflix uma opção interessante para os amantes do gênero.

Tudo se passa na cidade americana de Hemlock Grove (daí o nome da série), onde a tradicional família Godfrey é dona do lugar. Considerada por alguns como os salvadores da cidade, já que eles foram os responsáveis por gerar os empregos e movimentar a economia local, mas vistas de longe como um bando de gente esquisita. Aliás, as pessoas são muito problemáticas em Hemlock Grove.

A série é aberta com o jovem herdeiro Roman Godfrey (Bill Skarsgård) dando uma rapinha no carro e mostrando que ele tem um estranho fetiche por sangue.  Apesar de ser completamente desnecessária, esta cena tem como finalidade traçar o transtornado perfil desse protagonista que oscila entre o egocentrismo extremo a gestos de heroísmo e carinho.

Peter (Landon Liboiron, de Terra Nova), o outro protagonista da série é apresentado como um rapaz de valores – pobre, rejeitado na escola por ser cigano, mora num trailer com mãe – mas também alguém que está em contato com seu lado mais sombrio: o rapaz se transforma em lobisomen.

Roman e Peter se tornam amigos, após terem como objetivo comum o interesse de desvendar uma série de crimes que assusta a cidade. Tudo começa na noite em que Brooke Bluebell (Lorenza Izzo) é violentamente atacada e literalmente dilacerada por um misterioso predador.

Em última análise, vamos ver uma combinação única entre o bem e o mal em quase todos os personagens da trama. E isso é intrigante o suficiente para querer saber mais.

Além dos dois, temos ainda Olivia Godfrey (Famke Janssen, de X-Men ),  uma mulher elegante e fria que é a mãe de Roman e que, de cara, parece ser a grande vilã da trama. Porém, o monstro que ela supostamente representa, não é bem apresentado de início, de fato, é bastante confuso. Mesmo assim, Famke segura bem a onda e apesar de ser a grande estrela do elenco, é, por boa parte da série, apenas uma coadjuvante de luxo, ainda que saibamos que ela tem muito a revelar.

Shelley Godfrey (Nicole Boivin) é outra personagem interessante, mas mal apresentada no começo da série. Só a vemos sendo hostilizada pelos outros adolescentes no corredor da escola, por sua figura estranha de mais de 2m de altura (aliás, fica muito óbvio que nas cenas em que aparece de costas é um homem quem faz, o que fica bizarro, já que ela acaba parecendo um Frankenstein travesti). Ela é filha de Olivia e irmã de Roman, mas não é como eles. Shelley é um doce e ama o irmão e a mãe, porém foi rejeitada por Olivia desde criança por sua aparência grotesca: uma peruca com longa franja esconde seu rosto deformado e a incapacidade de falar, por isso se comunica por um aparelho que simula a voz por digitação. Superado isso, vamos conhecer a personagem mais encantadora da série.

Os personagens são tão falhos e humanos que facilmente conseguem empatia do expectador. A mãe desalmada, a filha deficiente rejeitada, o preconceito étnico (aqui contra os ciganos – ou romani, como preferem ser chamados), o mauricinho mimado com ego nas nuvens e o cara adúltero que se envolve com a mulher do próprio irmão. Todos eles com seus problemas e segredos, conseguem nos envolver e nos fazer se identificar por verdadeiras aberrações. Afinal, a mitologia da série apresenta lobisomens, vampiros e outras criaturas ainda não catalogadas.

Hemlock Grove tem o mérito de apresentar uma das mais convincentes transformações de lobisomens da safra atual, onde o jovem Peter tem seus ossos quebrados, pele rasgada e seus olhos sacam da face. Toda a capa humana vai ao chão e, como toda fera selvagem que gosta de carne, ele mesmo se encarrega de comer seus restos. Funcional e eficiente.

Transformação do Lobisomem

[su_youtube_advanced url=”https://www.youtube.com/watch?v=YNieysjSZW4″]

A série teve 13 episódios na 1ª temporada e mais 10 na segunda, produzidos pela Netflix, que está mudando um conceito muito básico do expectador fanático. Lá não tem a ansiedade de esperar uma semana ou os intermináveis hiatos para ver o próximo episodio, já que a Netflix publica todos de uma só vez. Hemlock Grove pode se converter em uma boa maratona.

Trailer:

[su_youtube_advanced url=”https://www.youtube.com/watch?v=04VIdRIHdZg”]